Por que é tão difícil iniciar a terapia?
- Flávia Pagliusi
- 19 de fev. de 2024
- 2 min de leitura

Iniciar a terapia pode parecer uma tarefa simples, mas, para muita gente, representa um primeiro passo bastante difícil de ser dado, por mais desejado que seja. Para muitos, o simples ato de decidir procurar um terapeuta já representa um grande desafio, pois implica em reconhecer a necessidade de ajuda e dar-se conta de que nem sempre é possível seguir sozinho pode trazer sentimentos conflitantes e difíceis.
Além disso, ainda é comum que as pessoas vejam com maus olhos os esforços em prol da nossa saúde mental, os quais são pouco ou nada encorajados e acolhidos. Consultas com o psiquiatra, uso de medicamentos e sessões de psicanálise podem carregar certo estigma social, causando expectativas e ansiedade em relação ao julgamento alheio. Afinal, o que os outros vão pensar sobre mim se descobrirem?
Também é comum que sintamos receio de expor feridas emocionais profundas, revivendo situações traumáticas que preferiríamos ter esquecido, ou até mesmo que tenhamos dúvidas e incerteza sobre como será o processo terapêutico. E nesse sentido, é comum que o nosso inconsciente ofereça certa resistência ao tratamento, agravando esses e outros sentimentos, como a culpa por estar investindo tempo e dinheiro em si mesmo, por exemplo.
Isso porque os nossos sintomas nos são caros. E digo "caros" em dois sentidos: eles nos são onerosos, ou seja, nos custam muito caro. Tiram de nós a tranquilidade e a saúde mental e nos deixam angústia e sofrimento. Mas, por outro lado, também nos são queridos, valiosos. Estão conosco desde há muito tempo e são, por assim dizer, nossa zona de conforto. Por mais sofrido que possa ser, são formas de funcionamento com as quais estamos habituados a lidar. E mexer nisso tudo pode ser apavorante.
É fundamental, no entanto, reconhecer a importância de ultrapassar esses primeiros obstáculos. Na análise, você vai encontrar um espaço seguro e acolhedor onde vai ser possível explorar suas questões pessoais, compreender seus padrões de repetição e sentimentos como a culpa, a tristeza, o desânimo, a raiva e a angústia num ritmo que é sempre particular. É importante lembrar que a analista está ali para acompanhar essa jornada, oferecendo suporte e acolhimento na elaboração dos conteúdos trazidos e, consequentemente, na construção de novas perspectivas sobre si mesmo e sobre o mundo ao seu redor.
Ao ultrapassar a primeira barreira e dar os primeiros passos na terapia, abre-se um caminho de descobertas e aprendizados. É um processo gradual e muitas vezes desafiador, mas os frutos colhidos ao longo do percurso são valiosos. A superação do receio inicial pode levar a uma maior compreensão de si mesmo, ao fortalecimento das relações interpessoais e a uma vida mais plena e autêntica.