Imagem corporal em tempos de redes sociais
- Flávia Pagliusi
- 11 de fev. de 2024
- 2 min de leitura

Quando se escuta a expressão "imagem corporal", é possível que já pensemos na a imagem que a gente tem do nosso próprio corpo, muitas vezes reflexo do que vemos no espelho. Entretanto, esse conceito é muito mais abrangente. Para além desse aspecto, a imagem corporal também abrange todas as maneiras pelas quais experimentamos nosso corpo. E isso engloba uma boa quantidade de experiências conscientes, como o toque carinhoso de uma pessoa querida, e um outro bom tanto de processos inconscientes, como percepções corporais internas e sutis e experiências que vivenciamos na etapa pré-linguística.
A Profa. Dra. Maria da Consolação Tavares, renomada pesquisadora da Faculdade de Educação Física da Unicamp, enfatiza que a imagem corporal é o ponto de partida para o desenvolvimento da nossa noção de eu. Mas ressalta que essa imagem não é estática nem imutável, muito pelo contrário: é plástica e maleável, sujeita a inúmeros processos de construção, destruição, ampliação, transformação e desintegração ao longo da vida, num caminho que termina apenas com fim dos nossos dias.
O corpo, nesse sentido amplo, vem há muito sendo associado à ideia do pecado, do proibido, daquilo que deve ser controlado e domesticado, o que termina por abafar a sua capacidade expressiva e suas potencialidades. A Prof. Dra. Tavares argumenta que ao reconhecer e integrar conscientemente esses impulsos, podemos validar nossa originalidade corporal, evitando o esfacelamento de aspectos muito próprios em detrimento das pressões morais e culturais de onde estamos inseridos. E nos tempos atuais, "pressão" não é bem uma palavra desconhecida. Com o surgimento e o uso amplo das redes sociais normas de beleza estreitas e irreais, padrões estético predefinidos, ideias de sucesso e estilo de vida associados a certos estereótipos sociais bem como toda sorte de homogeneização e enquadramento limitam nossa experiência, empobrecendo o contato com nosso próprio corpo e, muitas vezes, nos tirando saúde mental e bem-estar emocional.
Nesse contexto, a psicanálise apesar de conhecida desde os tempos de Freud como a "cura pela fala" faz mais do que isso. É, por excelência e antes de mais nada, a clínica da escuta. Escuta do que é dito em palavras, mas também do que surge do e no corpo, suas memórias e narrativas, ampliando as possibilidades e modos de estar no mundo, mesmo dentro do espaço analítico virtual.